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Marck Santi

  • Maycon Queiroz
  • 16 de ago. de 2015
  • 3 min de leitura

Todos dizem que ele precisa mudar. Que a vida que leva, é vida de malandro. Seus amigos vivem a repreendê-lo. “Você precisa ser mais transparente”. “Sua mãe precisa saber o que você faz”. Dona Ana sofre por causa do filho.

Ele tem dinheiro, mesmo sem emprego. Vez ou outra passa semanas fora de casa, não diz uma palavra, sai sem avisar, volta sem se justificar. Raramente liga para dizer onde está, com quem está, o que está fazendo. Quando liga sua mãe fica com a nítida certeza de que mentiu, mas finge acreditar. Pelo menos ela sabe que ele está bem. Dona Ana já se acostumou com as ausências do filho. O que de fato a preocupa é não saber a origem de seu dinheiro.

Sua carteira de trabalho ainda está em branco, apesar dos 25 anos. Ele possui carro, moto e recentemente anunciou que vai se mudar. Sua casa finalmente está pronta para recebê-lo.

− Que casa? - perguntou dona Ana.

− Comprei ano passado. Preciso de um espaço só meu.

Traficante. Toda vizinhança tinha certeza, porém ninguém nunca viu nada. “Tá na cara” - diziam. Dona Ana também suspeitava, mas nunca deixou de acreditar na inocência do filho. Marck não bebe, não fuma, até presta serviços voluntários. Não pode ser traficante.

Numa discussão com uma vizinha que insistia em convencê-la de que o filho dela era traficante, ela se exalta, expulsa a vizinha de sua casa e se tranca sozinha.

− Onde está seu filho agora? - perguntou a vizinha antes de sair.

Os rumores se intensificaram nos últimos dias. A polícia andava à procura de traficantes possivelmente escondidos no bairro. Marck estava viajando. Saiu às pressas, pois não levou a mala e foi de moto, fato incomum.

Dona Ana ficava totalmente só, quando o filho viajava. Viúva e sem parentes próximos, só lhe restava trancar as portas e assistir televisão.

Num fim de tarde melancólico, ela liga a TV. Como já era de rotina a desgraça alheia toma conta da tela. Um enorme acidente na Marginal Tietê. Engavetamento de veículos, caminhão, ônibus, motos e carros se envolveram. Três mortos no local, dois motoqueiros e um motorista de um Gol, vários feridos. O apresentador não se continha de satisfação. Queria a imagem mais de perto. “Mostre o sangue!”

Dona Ana se lembrou de que Marck não gostava desses jornais sensacionalistas e mudou de canal. Melhor ver novela.

Deitada no sofá, caiu no sono. Acordou com o barulho da campainha. Espiou pela fresta da janela. Um homem bem arrumado aguardava do lado de fora do portão com uns papéis na mão. Da janela, ela perguntou do que se tratava.

− Estou à procura de dona Ana Mendes dos Santos É a senhora?

− Do que se trata?

− Venho lhe trazer uma notícia sobre seu filho. Marco Antônio dos Santos.

Imediatamente Dona Ana sente seu coração disparar, espera pelo pior. Estaria Marck preso? Ou pior ainda, estaria ele morto? Lembrou-se do acidente na TV. Dois motoqueiros morreram.

− O que aconteceu com meu filho?

− Tenho uma intimação para ele depor num caso de invasão de domicílio, ele estava no prédio e precisamos interroga-lo. Preciso que assine aqui.

Ela assinou o papel do oficial de justiça e voltou para dentro. O que Marck aprontou dessa vez? Seria seu dinheiro fruto de assalto? Leu o papel e estava escrito “convocação para testemunho”. Não lhe pareceu que ele fosse suspeito. Deixou o papel sobre a mesa foi ao banho, com a mente ainda mais perturbada.


 
 
 

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