A filha do Coronel
- Maycon Queiroz
- 19 de nov. de 2015
- 2 min de leitura

Tudo que Davino queria saber era por que Deus fez ele nascer num lugar tão sofrido. Ah, como era bom ter água todo dia para mergulhar, molhar os pé. Banho demorado. Todo mundo sofre naquele lugar de secura o ano todo é buscar água no balde longe, é preparar a terra seca para inverno que não chega.
Ele sempre pensava que era castigo. Algum povo do sertão faz malcriação com Deus, só pode. Dois ano sem chuva. Nem uma gotinha pra matar a sede da formiga. Só podia ser castigo.
Enquanto o coronel mandava no povo que calado nada não fazia, ele, Davino, só pensava em ir embora dali. “vou ajuntar uma grana e arredar pé daqui” – pensava o jovem.
Nem precisou trabalhar. Linda jovem apareceu em seu lugar, graciosa na carruagem viu Davino passar e por ele se apaixonou. Linda jovem era abastada, filha do coronel, dono daquele lugar. Ô homem de sorte era Davino. Deus era bom. Castigo era pra ele não, fez nada de errado. Bom com todos.
Lina era o nome da bela. Aos olhos de Deus todos são belos, ou aos olhos de Davino que de bobo nada não tinha. “Lina minha belina mulher”. Dizia ele. “Não me importo com seu nariz grande, seu vesgo olho ou sua boca desforma” – pensava ele – “o importante é a beleza interior... do bolso.
O dia que o pai da moça deixou ele encortejar sua filina Davino ficou radiante. Chegou em casa fazendo comemoração.
- Vou sair desse sertão – falou pra mãe.
- Vai pra onde, menino?
- Sei não, minha mãe. Só sei que vou.
Como tu vai conseguir isso?
- Joguei meu charme e ela caiu. Feinhazinha filha do coronel precisa de homem. Fui lá e me apresentei. Só besta?
A semana toda não dormiu. Só esperando o dia da viagem. Sonhou sonhos de ilusão. O marzão imenso na sua frente, a piscina destrais com as mulheres bonitotas de tanguinha. A Lina vai tá no salão de beleza pra ver se aliviar a feiúra.
Domingo chegou, sua melhor roupa ele botou, tomou banho, se perfumou e rumou pra casa da “amada”. No caminho pensava onde ela tava, que ele nunca viu? Coronel dizia de filha na capital, mas era qual capital? Não importa ela ta de passagem e logo volta e leva Davino junto.
Chegou na porteira e já foi entrando. Sô de casa, vou bater na porta? Chego e entro quero nem saber não. Pontou na sala do casarão. Coronel tava lá com sua filha. Prontinho pra dar a grande notícia.
- O casamento vai ser daqui a um mês. Minha filha vai trazer as coisas dela da capital e vai morar aqui agora.
A alegria de Davino se foi, levada pela onde da decepção. Morar ali? No meio de um sertão que não chove nem coronel tem água fresca pra dar mergulho. Aquilo não tava certo, Deus devia de ta chateado com ele. Deus não era bom. Isso era castigo. Sem água e com mulher feia. Correr não dava, coronel tinha boa mira ia ser bem na nunca pra derrubar. Fazer o que? Tem que casar.
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