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O amor venceu

  • Leonardo de Cássio
  • 15 de mar. de 2016
  • 4 min de leitura

As asas do Anjo o Demônio acaricia, cansados após a batalha.

Enfrentara os mais terríveis demônios

Para que enfim vivesse o amor sem bagagem

Porque, ora, que medo tinha ele das bagagens do Anjo

Que bagagens afinal, seu amado trazia do passado?

Havia ele então lutado por alguém que mal conhecia

Quanto conheço da pessoa que amo?, se pergunta,

Mas logo não importa mais, porque sua espada se ergue

A espada que luta para proteger as bagagens do passado

O Demônio se levanta, levando o Anjo no colo,

Afasta seus pensamentos e caminha para fora do Inferno

Dante ainda procura Beatriz

O Anjo geme machucado, com um corte no rosto

Demônio afasta a dor com um beijo e um afago

Quando estão longe o bastante, ajoelham-se lado a lado

O Anjo com seus poderes inimagináveis cura-se com um simples toque

O Demônio maravilhado lhe dá um beijo nos lábios.

São um só corpo.

A luta valera a pena.

Conheceram-se dois anos atrás, confinados a um amor solitário

Nunca que um Anjo e um Demônio deveriam se apaixonar

Era julgado por tal ato. Somos julgados por amar.

Quem dera então sem julgamento viver, por isso eles iam lutar.

Olhavam-se eles em meio ao caos do monte de lixo onde se encontravam

Não sabiam o que o destino havia-lhes reservado

O destino reserva, espera, nutre, revela

Entrelaçam os dedos e fecham os olhos levados pelo momento

Não se sabe quando o amor nasceu e como tal aconteceu

Apenas surgiu, num momento, numa centelha de momento o sentimento

Queria eles nunca que isso lhes acontecesse

Tem pessoas que dizem que o amor machuca, e eles não estavam dispostos à dor

Até agora

Tudo se acabara quando outro Anjo se aproxima e vê o casal abraçados

Julga como errado tal ato de escárnio

Voa até os céus em velocidade ímpar

Mas quando reúne todos para o comitê a história já havia mudado

Então conta ele que o Demônio estava influenciando o Anjo

O amor não é influenciado

Isso não era a verdade

Mas os outros Anjos acreditaram

Ajeitam eles suas asas plumadas e levantam voo até a hiploteca

Sacam armas de ferro e cobre. Espadas e lanças.

Eles saem pelos portões celestiais à procura dos portões do Inferno

Enquanto um Demônio ataca um Anjo, todos os Anjos atacam os demônios, assim pensavam eles.

Quando chegam no lugar, os Demônios estavam despreparados

Mas sabem o que os Anjos querem e não hesitarão em lutar

Correm eles então para sua hiploteca. Buscam armas.

Atacam.

Os anjos se chocam com seus inimigos.

A batalha épica que não haviam tido desde quando foram expulsos do Paraíso

Querem vingança, tem sede da maldade

Os Anjos, afinal, não são tão bons assim

O casal apaixonado, quando chegam ao Inferno, mal sabiam o que os esperava

Gritos ardentes de dor, e sangue derramado por um único amor

Não podiam eles ficar ali parados

Qual o motivo, afinal?, eles se perguntavam.

O Demônio entrou e deixou Anjo esperando de fora

Mais tarde, não poderia afirmar que vira a batalha

Mas a ouviu, e o vale do Inferno ressoou com ecos.

O crac de uma lança quebrada junto com o tinir das espadas

Os gritos dos demônios seguindo pelo dos Anjos

O Demônio, lá dentro, desviando de golpes, virou-se e correu

Não havia mais nada para ver, compreendeu-se.

A batalha tomou ainda mais forma à sua volta

Ouviu batida de cascos e botas de ferro chapinando em fogo

O som de espadas batendo em escudos de carvalho

E o raspar de aço contra aço misturando com os silvos das flechas

O trovejar dos tambores, os gritos aterradores daqueles que davam adeus à vida.

Alguns que lutavam barravam pragas e suplicavam por misericórdia

Mas as vertentes pareciam fazer truques com o som

E então, pouco a pouco, os sons diminuíram e desapareceram, deixando no ar apenas o crepitar do fogo

Quando uma aurora vermelha surgiu no leste, o Demônio subiu a colina.

Abraçou ele o Anjo, aflito e desesperado,

Queria fugir, correr e desaparecer com seu amado.

Mas a história não termina com o fim de uma batalha

Lúcifer e dois demônios aparecem lado a lado

O Demônio Rei era gigante

Contando seus três metros de altura, asas de couro no topo de suas costas

E um tridente afiado que levava nas mãos

Vocês causaram guerra, pagarão com vida!, prometeu Lúcifer

Demônio quer gritar o seu amor e explicar,

Mas as consequências de falar

é fazer com que as pessoas entendam.

Não sou covarde, não lutarei com um Meu sem espada, urrou Lúcifer,

O demônio que pulava como bobo ao seu lado uma espada jogou ao Demônio

Que a sacou

A luta começou

O Anjo pulou para trás, erguendo suas asas

Os dois Demônios magricelas foram até ele

Mas não demorou muito

O amor era maior

Lucífer estava caído no chão, e o Anjo sabia o que o havia motivado o seu amado ganhar

O demônio estava com a espada no peito de Lúcifer

Um empurrão e tudo acabaria

Porque o Anjo tinha os dois demônios entre os braços e com um aperto

Tudo acabaria

E tudo acabou

O Sol parou.

A Lua contemplou.

O céu com toda a sua imensidão chorou

com o mais puro amor.

O Demônio a espada empurrou. O pescoço dos demônios o Anjo quebrou.

Então eles caminham para longe e o Anjo se cura.

Isso você sabe bem.

Não importava a batalha. Nem as bagagens e nem toda a dor.

Porque ambos sabiam que teriam que enfrentar a vida para morrerem juntos

Mas a história está longe de acabar

O Anjo está tenso demais, o Demônio sente a necessidade de ajudar

Olhe para dentro de si. Aí dentro

não pode ser tão escuro assim

para você se perder em cada

esquina do seu coração.

O Demônio sussura para seu Anjo amado

E ele tinha razão

Não é com o tempo que se pode curar a dor,

que se pode reparar a alma,

mas se o tempo for resumido em abraçar alguém,

acho que o tempo vale a pena.

E se abraçam

Anjo e Demônio.

Um único corpo. Uma única alma

A guerra valera a pena.

O amor venceu.


 
 
 

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