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Nightmare Huntes - Caçadores de pesadelos

  • Guilherme Nascimento
  • 24 de abr. de 2016
  • 22 min de leitura

“Novamente tenho que acordar cedo e voltar para aquele lugar. Eu o considerava um inferno. Um inferno o qual eu não desejava ter participado.”

Hoje completo finalmente os meus 16 anos e percebi que a um bom tempo minha mãe está um pouco diferente comigo, como se a chegada do meu aniversário viesse com alguma notícia como “Filho, você é adotado”, embora eu acreditasse que não era nada espantoso demais.

- Jason! – ela me grita da cozinha.

- Já vou, mãe – sento na cama e fico pensando qual seria a roupa que eu iria vestir para ir ao colégio.

Minha mãe tinha mania de toda semana comprar roupas novas, então a palavra “Liquidação” em letras maiúsculas piscando em neon era um sonho dela. Passar 3 horas ao lado dela, enquanto me fazia perguntas sobre a roupa dela ela desgastante. Uma vez ela se empolgou tanto que fomos a quase todas as lojas do shopping. Ela sempre me diz que essa compulsão por roupas veio de um trauma da infância, porque eles não tinham muito dinheiro e minha mãe sempre relatava que ela gastaria ao máximo para se sentir bem, eu até entendo a parte dela, mas por que eu tenho que fazer parte desses passeios? Eu não podia ficar sentado algum lugar do fliperama jogando qualquer coisa que fosse? O fato de o meu pai ter morrido quando eu tinha três anos me faz ficar com pena dela e isso, de alguma forma, nos aproximou. Às vezes eu sinto que sou a única companhia dela, mesmo ela tendo aquele monte de amigas.

- O que preparou? – grito, ansioso. Esperando não ser as mesmas torradas queimadas iguais as do dia anterior.

- Desce logo que você vai descobrir – é possível sentir um tom de ânimo em sua voz.

Pego minha toalha e vou correndo para o banheiro para tomar um banho rápido. No meio do banho sinto um delicioso cheiro de bacon exalar, sinceramente, aquele cheiro me deixava maravilhado, então sinto a necessidade de me apressar. Pego um sabonete e esfrego rapidamente no corpo, despejo um pouco do shampoo na mão e lavo meu cabelo rapidamente. Estou pronto. Seco-me com rapidez, visto uma roupa confortável e desço. Quando chego à cozinha lá esta uma pequena caixa em cima do balcão.

- O que é isso? – aponto para o presente e pego uma fatia de bacon.

- É seu aniversario, abre logo! – ela solta um sorriso de felicidade.

- Tá bom. – Abro a caixa e lá esta uma chave de carro, eu não consigo segurar a felicidade que sinto na hora. – Tá, cadê as câmeras?

- Não tem câmeras, Jason. Estou realmente feliz em poder te dar esse carro – ela parece satisfeita, distribuindo rufles sobre o prato de porcelana branca.

- Velho, eu sei que está aprontando alguma – ela despeja caramelo sobre os deliciosos crocantes.

- Jason, pode ficar feliz pelo menos uma vez e se sentir grato por isso? – ela para e me olha, segurando a frigideira nas mãos.

- Tudo bem – abaixo os ombros, dando-me por vencido – E aonde ele esta? – Abraço-a levemente, e lhe dou um beijo na testa, sem tentar parecer entregue demais.

- Está na garagem. – Ela me solta e pega um pedaço do waffles.

Viro-me, pegando as chaves. Abro a porta, mas antes de sair, me viro e a chamo.

- Mãe – ela vira o pescoço – Muito obrigado. Sério, obrigado. – sussurro. Ela assente.

- Não vai tomar o café? – aponta para as coisas que ela havia feito.

- Não estou mais com fome! – na verdade eu estava, mas queria ir ver logo o meu carro.

Pego umas fatias de bacon e um waffle e misturo tudo na boca, fazendo descer tudo com alguns goles de suco de laranja. Correndo, vou para garagem e lá esta, a BMW-X3 que eu havia falado semana passada para minha mãe. Finalmente eu tinha meu carro. Finalmente minha independência. Porque, todos os dias ser levado pela mãe para a escola no ensino médio não era fácil, porque eu já não era popular, e ainda ficava com a imagem de filhinho da mamãe. O meu teste no dia anterior tinha sido um sucesso e hoje eu pegaria a minha carta. E, finalmente, último dia na escola, sem ser levado pela minha mãe. Pego minha mochila do carro dela e coloco no meu, giro a chave na ignição e deixo a garagem, sentido a sensação gostosa de estar dirigindo próprio carro. Respiro fundo e dirijo até a frente de casa onde minha mãe estava me esperando, troco de lugar com a minha mãe que toma conta do volante e ela dirige até a escola, enquanto isso sente a necessidade de mandar uma mensagem para Max, que era meu melhor amigo.

“Max, ganhei um carro. já estou chegando na escola, já fica aí para ver “

Sobre o Max, eu não tenho muita coisa a dizer, desde que me conheço por gente, eu sou amigo dele. Minha mãe é amiga dos pais dele desde a época da faculdade, e por incrível que pareça, elas engravidaram no mesmo ano, contudo sou duas semanas mais velho que ele. Todos dizem que somos parecidos, cabelos pretos, olhos azuis, pele branca, e por incrível que pareça, quase a mesma altura.

Minha mãe vira o carro e vejo um vulto negro, peludo, se arrastar pela estrada e entrar no quintal de uma casa.

-Mãe! Você viu aquilo? – Aponto, assustado.

- Não, Jason. O que? – Apesar da calma, ela me olha meio desconfiada.

- Um bicho. Grande, peludo e... Era grande! Mãe, impossível você não ter visto aquilo! – Continuo apontando para trás enquanto o carro continua em movimento.

- Relaxa, Jason – minha mãe dá os ombros – Menos computador da próxima vez.

Impossível, minha mãe não ter visto aquilo, era gigante, estranho, ou deve ser porque eu estou ficando mais velho, e os hormônios decidiram pregar uma peça. Consigo ver a escola ao longe, um prédio grande, revestido de tijolos laranja, portas de madeiras, era um lugar que particularmente eu gostava de frequentar. Chego, e Max me espera do lado de fora da escola, sentado em um banco. Quando me vê, acena, levanta e vem até a janela do carro.

- Oi, Senhora Hutterford. – Ele se apoia no vidro e abana a mão para minha mãe – Uau, Jason, que carrão! – Ele faz uma cara de impressionado.

- Oi, Max. Sua mãe esta bem? – Minha mãe pergunta.

- Esta sim. Mando um abraço – Ele abre a porta. – Vamos, Jas?

- Bóra. – Dou um beijo no rosto da minha mãe e desço do carro. – Tchau, mãe.

- Tchau, Jason. Quando chegar preciso falar com você. – ela sorri e dá partida no carro.

Franzo o cenho. Talvez eu fosse mesmo adotado.

- Jason que carro perfeito! Ainda bem que hoje você pega sua carta de motorista. – Max diz todo feliz.

- É. ‘Se pá eu pego hoje a tade.

Andamos até a porta principal e entramos na escola, como sempre, cheia de grupos, os artistas que eram do clube de teatro, os nerds que eram do clube de xadrez, os roqueiros que não pertenciam a nenhum clube, mas tinham uma grande quantidade de pessoas, e os populares, mais conhecidos como Deuses – o nome vem porque eles tinham todos os padrões de perfeição e, além disso, as garotas eram lideres de torcida e os garotos do time de futebol – Uma vez há uns dois anos atrás eu fiz teste para o time, foi uma decepção, todos os garotos eram altos e fortes e eu era magro e não muito alto, no mesmo instante eu desisti. Eu nunca tive muitos amigos, mas me considero uma pessoa legal, e também não era feio, eu já tinha namorado uma vez na sexta série, não durou duas semanas, ela teve que se mudar. Já o Max saía com todo mundo, qualquer pessoa, a mãe dele sempre foi um pouco liberal e um pouco mais solta em questão a ele. Então, qualquer coisa que se movesse, Max estava pegando.

Continuamos andando pelos corredores e vejo a Madson mexendo em seu armário, e para quebrar com o clima, lá vem o Erick, jogador de futebol, o mais querido por todos, e o favorito do diretor. Eu ainda estudo com a Madson, e já fomos amigos na terceira série, que foi onde despertou o meu amor por ela, acho que foi a primeira pessoa que eu realmente havia gostado, mais ninguém além dela.

- Cara, faltam dois anos para terminarmos e irmos para longe dessa prisão – Max bufa um pouco.

- Vão ser os dois anos mais longos da minha vida – Levanto minhas mãos para o céu. – Tirando que tem aquele diretor que é um saco, puxa o saco do Erick, alias todos adultos dessa escola o tratam com diferença. – Abro a porta da sala e sento na minha cadeira.

- Espero que esse ano consiga nos enturmar, é verdade, todos desta escola puxam o saco da Madson e do Erick, mas calma, Jason. Ainda estamos em janeiro e no primeiro ano, estou sentindo, que nosso médio vai ser inesquecível! – Ele joga a mochila no chão e senta na cadeira que ficava ao lado da minha.

- Espero que seus pressentimentos estejam certos – Dou uma risada e o professor entra na classe. – Ele de novo? – Cochicho e faço uma cara de desesperado.

Particularmente, eu não gostava muito deste professor, uma vez na quinta série, ele me fez fazer dupla com o Erick em um trabalho, e quem teve que fazer todo o trabalho? Acho que foi nesta época que comecei a ficar com raiva dele, um garoto folgado, metido e sarcástico. Como alguém conseguia suportar ele? Ainda bem que eu tinha feito o trabalho e espero o professor chamar as pessoas para entregar, e depois de um tempo, ele chama meu nome e vou em direção à mesa dele e coloco meu trabalho em cima, viro e caminho para o meu lugar.

- Espera, Jason! – Ele folheia meu trabalho

- Oi? – No mínimo ele viria criticar mais uma vez os meus trabalhos, viro e vou à mesa dele e espero o turbilhão de reclamações.

- O seu trabalho está perfeito, esta com todos requisitos que eu pedi, muito bom – Ele balança a cabeça em sinal positivo.

- Obrigado, professor. – Inspiro fundo e solto o ar calmamente e vejo Max fazendo sinais positivos com os polegares.

Pela primeira vez eu havia sido elogiado pelo senhor Granhart, e acho que o Max tem razão, esse ano vai ser bom.

-Você viu? O Sr. Granhart me elogiou! – Solto um sorriso.

-Pela primeira vez, você recebeu um elogio – Ele da risada e o professor olha para o rosto dele e ele para de rir.

Na noite passada, eu não tinha dormido muito bem, passei a noite toda tendo sensações estranhas, não sei muito bem dizer o que, mas parecia que em alguns momentos eu não estava dentro de mim. Vejo novamente um bicho estranho passando do lado de fora.

- Ei! Ei! Você viu aquilo? – Aponto para fora.

- Viu oque cara? – ele da risada. – Está ficando louco?

- Provavelmente. – Solto um sorriso falso.

Por causa da noite passada decido descansar um pouco, o professor disse que não iria passar nada e eu escutei alguns boatos que falavam que alguns professores faltaram, então essa era minha chance, três aulas vagas, dariam um bom descanso. Vejo um dos bichos entrando na porta, e eu não tenho reação, ele vem na minha direção e parece que ninguém esta me percebendo, eu levanto e ele continua andando e eu sacudo Max mas ele não esta nem aí, o bicho então pula na minha frente e arranha meu braço eu começo a gritar de dor, aparece um garoto, não consigo enxergar o rosto dele, parece que o arranhão daquele monstro estranho, tinha alguma coisa, o menino tira uma espada e então passa ao meio do monstro, deixando ele em dois pedaços e quando ele vai se virar eu escuto bem ao fundo. Jason... Jason... Jason...

-Acorda, cara! – Max me sacode e eu levo um susto. – Já estamos na hora do intervalo, tu dormiu muito, e o que é isso no seu braço? – Quando ele toca eu sinto uma dor.

- Soco...ro. – Recupero meu folego, e fico respirando ofegante. – O que aconteceu ?

- Você estava todo desesperado, parecia que não conseguia acordar do sonho. – ele franze o senho e parece estar preocupado.

- Eu dormi três aulas? – fico um pouco assustado, parecia que foram minutos. – Não sei como isso apareceu aí, mas esta doendo um pouco, um monstro, sei lá oque me atacou. – fico olhando para uma cicatriz, que estava quase invisível. – E ai, vamos ?

Hoje espero que tenha alguma coisa boa na cantina. Quando chegamos lá, tinha lanche natural e gelatina, e, bom, pelo menos eu gosto de gelatina. Pegamos a comida e procuramos um lugar e lá estava a mesa dos excluídos, a mesa que não tinha ninguém. Vamos em direção a ela e sentamos. É, éramos os excluídos. Ficamos conversando sobre alguns jogos, e quando nos damos conta, o sinal já havia batido. Pegamos as bandejas e jogamos os restos no lixo e vamos para sala, e só faltavam duas aulas para acabar e eu ir para minha casa, e como tempo passa muito rápido, nossas conversas pareciam que eram de vinte minutos quando na verdade já se passaram duas horas, o sinal toca e eu arrumo minhas coisas e ando com Max até a saída. Despeço-me dele porque vejo minha mãe estacionando do outro lado da rua.

- Eu vi de novo, mãe! – Entro no carro, fechando a porta.

- A criatura imensa e... Peluda? – Ela solta um riso, mas sei que é só para conter o nervosismo.

- Você também viu? Ufa, não estou enlouquecendo então. – Sinto um alívio, virando a cabeça para o lado.

- Olha, Jason – ela respira fundo e se arruma no banco, desconfortável – Essa é uma conversa estranha porque eu tive a mesma conversa com meu pai quando eu fiz dezesseis anos e depois disso... – ela morde o lábio – minha vida nunca mais foi e a mesma e por isso estou bastante... – ela respira fundo e me olha nos olhos.

- Tudo bem... – viro os olhos – Leve quanto tempo quiser, contando que eu consiga chegar ao trabalho antes de você acabar com todo esse mistério.

- Claro – ela tenta parecer descontraída, mas todo seu corpo está tenso. – Olha, querido, ahn... – ela busca palavras onde são impossíveis de encontrar. – Bem – ela começa, desviando o olhar – O fato é que as pessoas dessa família sempre tiverem habilidades... – ela faz um sinal com as mãos – Você vai achar muito estranho. – Eu sorrio e balanço a cabeça, achando graça dela – Se prepare pra uma coisa estranha. Vai levar um grande susto. Nós temos um segredo de família; e esse segredo é: as pessoas dessa família são... – ela balança a cabeça, pisca e franze o nariz, respirando devagar - Nightmare Hunters.

Eu a olho e ficamos em silêncio por algum tempo.

- Um Nightmare o que? – Meu rosto soa total descrença. Que loucura era aquela?

- Bom – mais uma vez ela contrai o rosto – Nightmare Hunters são caçadores de Spiters, que são os monstros gerados durante um pesadelo, e o dever dos Hunters são de caça-los antes que eles entrem em outro pesadelo e se multipliquem.

- Essa piada é muito bizarra, mãe – levanto as sobrancelhas – Não tomou nenhuma droga, né?

- Isso é sério, Jason. Não é nenhuma piada.

Levanto o ombro.

- Então quer dizer que você, o papai, os meus primos, os meus tios, o vovô e todos os outros caçavam... Monstros de pesadelos? – ainda estou totalmente descrente nessa loucura, mas se ela queria brincar, eu estava disposto a entrar na onda.

- Sim – ela balança a cabeça.

- E ainda hoje vocês fazem isso? – sorriso, incrédulo.

- Sim. Bom, seu pai também era um. Vocês são de uma linhagem real, e isso quer dizer que você tem o sangue dos Gran Hunters no seu sangue. Eles veem tomando conta desse universo paralelo, ou digamos que também todos chamam de outra dimensão, e você vive o mesmo espaço tempo, porém em outra dimensão. É meio difícil de explicar.

- Espera aí – eu peço – Se for verdade – gesticulo com as mãos – o que não é...

- É sim – minha mãe interrompe.

- Claro que não é, obviamente – rebato – Mas se fosse, o que não é...

- Claro que é! – interrompe mais uma vez.

- Não é, não – viro o rosto – Mas se fosse, como eu poderia...?

- Como é a parte fácil – ela levanta as sobrancelhas – É só você ir a um lugar escuro, como um armário ou debaixo da cama, ou no banheiro com a luz apagada, fecha os olhos e respira três vezes, metalizando a outra dimensão e pronto, você vai parar lá.

- Uau – mas não é um uau animado. É mais como um “Uau, agora posso ir ou você quer dizer que a Branca de Neve vai ser nossa nova cozinheira?”

- Essa reação é melhor do que nada – ela diz – Mas tem outra coisa. – Mais uma vez ela ensaia antes de chegar ao ponto – Max é seu primo – ela diz, por fim – Mas ele não sabe, o seu pai, quando ele teve que ir definitivamente viver em Drauc’s ele disse que vocês não poderiam saber, pois se tivessem o contato sabendo que são parentes, poderiam desenvolver esses dons mais rápidos, e não era isso que ele queria, ou seja, seu pai está vivo. – Ela respira fundo e fica me olhando.

- Espera. Eu passei a vida inteira achando que meu pai tinha sido morto e você está me dizendo que ele está vivo? – fico transtornado.

- Eu deveria ter te falado antes. Desculpa...

- Olha... Você está maluca. Totalmente! De onde tirou essas estórias? Spiters, Draucs... Eu vejo séries e você que tem uma ótima imaginação,

- Jason, você acham mesmo, que eu iria perder meu tempo inventando essas coisas? – Ela estaciona na frente da autoescola.

- Isso só pode ser brincadeira.

- Não é brincadeira. Por que eu mentiria pra você?

- Tá bom – abro a porta e saio do carro – Eu vou me trancar no banheiro daquela autoescola com os olhos fechados, mentalizando um lugar imaginário, e depois que eu voltar de lá, você vai se ver comigo.

Fecho a porta e entro na autoescola.

Quando eu entro, falo com uma mulher que fala para eu esperar alguns minutos e finalmente chamam meu nome, assino um papel e pago a taxa que foi cobrada. Guardo a carta no bolso e caminho até o banheiro. Lá dentro, apago a luz.

Fecho os olhos.

Penso num universo paralelo.

Um universo onde eu não trabalhava num supermercado com o pior chefe do mundo.

Sou sugado por uma luz azul ofuscante.

A primeira sensação que sinto é de um trator esmagado meu pulmão, tirando todo o meu ar. Depois sinto que por alguns segundos minha alma não pertence mais ao meu corpo, tudo aquilo, não passava de ilusão, a tal dimensão existia, era um plano aberto, um lugar parecido com o de onde eu morava, mas não tinha casa, não tinha prédio, tinha apenas grama e uns longos castelos aos fundos. Não é a mesma sensação que o normal, eu sinto que aqui eu sou mais poderoso, não tenho certeza se é poder, eu me sinto mais ágil. Parece que eu morri e reencarnei no corpo de outra pessoa. Meu coração bate tão rápido que consigo vê-lo explodindo. Não acredito que de fato tudo aquilo existia. Eu estava tremendo. Vejo duas pessoas ao longe e caminho até elas.

- Ei. – Toco a mão no ombro da garota. – Madson! – Fico espantado.

- O que você esta fazendo aqui? E como pode me ver? – Ela parece estar surpresa com a minha presença.

- Bom, eu fiz 16 anos hoje, e acho que esse é o meu destino, foi isso que me disseram. – Fico um pouco sem jeito. – E quem é aquele? – Aponto para um homem que estava de costas.

- É o... – A interrompo.

- Cabelos loiros, alto, forte, é o Erick! – Falo em tom de pouco caso.

- Quem diria que o excluído seria um Hunter. – Ele ri sarcástico enquanto afia sua espada.

- Bom, eu vim aqui, porque fui obrigado! Ou acha mesmo que ficaria satisfeito em estar com vocês? – Dou risada.

-Bom, Jason, eu e o Erick estamos aqui para te ajudar, seu pai pediu isso, conhecemos aqui, já faz um tempo, nossos pais são de outros reinos dos hunters, aqui neste paralelo você tem uma capacidade que jamais conseguiria desenvolver no plano normal. Deixa eu te dar umas dicas, aja por extinto, está tudo no seu sangue. – Ela pega alguma coisa atrás dela, é uma espada, ela estende a mão e me dá. – Faz o que eu falei, aja por extinto!

Quando toco na espada, ela brilha vermelha, a mesma cor que a espada do Erick, já a da Madson brilha azul. Cada espada tem sua cor? Isso não seria possível, porque a minha e a do Erick são iguais, pode ser que cada cor tenha uma classificação.

- Madson, porque minha espada está vermelha? Da mesma cor que a do Erick? –Aponto para a espada dele.

- Simples, cada cor, é um dom diferente na espada, a vermelha é o fogo, se ficar azul, eletricidade, e tem várias outras cores que mais para frente você vai se descobrir. Agora, abaixa a espada e vamos para a ala de combate. Vamos ver se está preparado.

Eu não estava.

Eu me lancei no quadrado de cimento, os pés doendo, pousando agachado, tentando manusear a espada. Seu tom avermelhado suavizava sua silhueta na escuridão. O punho direito pressionou o chão e eu ergui a cabeça.

Siga seus extintos.

Era uma paisagem utópica. Escadas de ferros partiam de pequenos balcões de ferro, ligadas de formas matemáticas a outras escadas. As escadas depressivas levavam a mais patamares e mais escadas, uma cachoeira de peças metálicas se estendendo até o espaço infinito. Luzes de trabalho protegidas pendiam em ângulos retos uma das outras. Seus raios fracos mal iluminavam as figuras medonhas nas sombras abaixo. Algumas estavam nos lados opostos das mesmas escadas, como se a gravidade fosse questão de ponto de vista pessoal. Seus perfis sombreados balançavam nervosamente no escuro. Eram os monstros que minha mãe havia citados. Bicho-papão, lobisomens, vampiros, aranhas gigantes – uma variedade de monstros bizarros me olhando. Cada um era diferente e cada um era semelhante em aspectos importantes.

Sinta em seu sangue que você tem o dom de lutar.

Passou pela minha cabeça a imagem de outro tempo e lugar muito distantes, mas nunca distantes de mim. A aranha de olhos vermelhos não tremia. Suas pernas estavam firmes como granito. Seus olhos tão inflexíveis quanto uma geleira...

Segui meu extinto.

Agachei-me mais. Assim que cheguei a essa dimensão, minhas roupas haviam mudado. Era uma roupa nova e justa. Era essencialmente uma forma de armadura poderosa, embora sua capacidade de bloquear danos ainda não tivesse sido testada. O exterior da roupa ainda era uma variação leve de Látex firme e algodão forte, mas felizmente muito do peso havia sido reduzido com o abandono da blindagem, que de alguma forma, eu sabia que já estivera ali.

Ergui a cabeça, vasculhando o labirinto louco que se estendia ao infinito em todas as direções. Minha mente estava disparada. O tempo desacelerava. Eu montava um jogo na cabeça. Pensou em um jogo de vídeo game. Se estivesse com um controle nas mãos e pudesse sair da situação, o que faria?

Bicho papão. Dois metros, forte, e o peso parecem ir contra o seu favor. A quantidade de pelos que cobrem seu corpo parece dificultar seus movimentos, mas ele parece sólido como uma rocha.

Vampiro. Um metro e meio, estima-se. Usa roupa preta e uma capa vermelha que, ou o ajuda, fazendo dissipar calor para seu corpo – que é uma ideia absurda, porque ele é um homem morto – ou o atrapalha, porque só está ali de enfeite. Suas mãos apontam para mim, mas estão inseguras. Não é assassino profissional. Três ou quatro tentativas antes de conseguir acertar um alvo parado.

Eu continuei catalogar os obstáculos entre eu e meus oponentes.

Franzi o cenho.

Não era hora de ser sutil.

Fechei os olhos.

Saltei. Os músculos sintéticos da minha roupa fortalecendo minhas pernas. Disparei pelo espaço aberto, girando pela luz distorcida dos espelhos presos ao longo do saguão.

Vieram ataques de todas as direções. A Aranha cuspiu teias, produzindo altos sons graves de “chuff” a cada rajada. Vários gritos de fúria e medo penetraram o lugar quando o vampiro pulou em minha direção com os dentes afiados à mostra. Puxei meus pés o máximo que pude e acertei seu rosto.

De repente eu parecia estar em tida parte ao mesmo tempo, minha forma magra voando pelo espaço espelhado de ilusões e de repente multiplicado mil vezes.

Espelhos de vidro de segurança foram quebrados quando os monstros correram atrás de mim e se debateram contra eles. Vários estilhaçaram com um ruído alto, o vidro arredondado de seus restos caindo como neve cintilante entre as luzes de trabalho que agora balançavam. Alguns monstros feriam-se com os cacos e caiam no chão, depois, transformando-se em pó.

O Bicho-papão girou seu corpo no momento em que baixei o ombro para a plataforma de cimento. O músculo do ombro contraído se transmitiu para o traje, que também contraiu, amortecendo o impacto enquanto eu rolava. O Bicho-papão se jogou contra mim uma vez antes que meu impulso me colocasse de pé, atingindo a cabeça do monstro. A musculatura fortalecida do traje acertou a cara com tal força que ela abriu um comprido corte.

Chuff... tss. A teia da aranha ricocheteou em um dos degraus de metal.

Foram dois.

Os outros monstros continuaram a disparar, mas o labirinto ainda estava no caminho, desviando a pontaria. Outros mais estilhaçavam a cada momento que passava.

Eu tenho que acabar logo com isso.

Eu agarrei a pata peluda da aranha furiosa, girei o corpo e a joguei no chão perto de uma das escadas metálicas, acertando um soco em seu olho central. Ela logo rolou, se levantando nas outro sete patas. Eu rapidamente ajoelhei em suas costas enquanto levava a mão até as costas do bicho. Enfiei a mão profundamente em suas costas e a transformei em pó.

Foram três.

Eu puxei um comprido fio que pendia no teto. Corri silenciosamente e embosquei o lobisomem que se escondia nas sombras, esperando, quieto, o momento oportuno para me atacar. Eu pulo sobre suas costas e enrolo a fita em suas patas dianteiras, lutando contra a dor de um arranhão que havia levado dele. O lobo tentou me morder, mas, com um puxão rápido e um som rascante, o lobo foi preso ao suporte da escada.

Chuff... Crack!

Mas eu não estava mais ajoelhado no ponto em que o cimento foi lascado. Corri novamente, pulando de plataforma em plataforma, me perguntando quando que eu havia aprendido a fazer aquilo.

Eu suava de pé na plataforma. Restava apenas uma luz de trabalho, brilhando sobre meus reluzentes cabelos.

- Você fez um ótimo trabalho – ouvi a voz em meio a escuridão. Eu me virei.

- Pai?

A luz desapareceu quando a escuridão me engolfou.

Por um momento, senti que estava sonhando, a náusea tinha tomado conta do meu corpo, será que era a tal da dimensão está fazendo mais um teste comigo? Eu não conseguia acreditar que a figura paterna que eu acreditava estar morta esta aqui na minha frente, meus olhos enchem de lagrimas, a felicidade que eu sinto é tanta que não consigo expressar, não tenho reação, estou congelado, eu apenas sabia que era ele por conta de algumas lembranças que eu tinha do passado, antes dele “morrer” ele morava comigo e com a minha mãe, frequentemente ele sumia e alguns dias depois parecia e sempre era dentro do quarto. Meu pai está vivo! 13 anos sem ver ele, 13 anos! Eu conseguia me lembrar perfeitamente dele, cabelos pretos, eu tinha olhos idênticos aos seus, eu parecia uma cópia, um pouco baixa e mais fraca.

- Jason, você está tão... Meu garoto está lindo! – é possível ver lágrimas escorrendo do seu rosto, aquele lugar já estava preparado para ser a arena, tudo ao redor volta para cidade, ele vem em minha direção e me abraça forte.

- Eu... Eu... Não acredito – me desabo em choro. – Eu senti muito sua falta. – Começo a tremer e não consigo falar direito, finalmente me sinto seguro ao lado dele.

- Eu precisava te ver, esses 13 anos não foram fáceis, te acompanhar, te proteger, você esta tão grande. – Ele me abraça forte novamente.

- Eu sempre senti sua presença, mas achei que fosse seu espírito. – rio ao meio das lagrimas.

- E sua mãe? Como ela está? Eu sempre acompanhei vocês dois, pelo menos quando eu tinha tempo – Ele abre um grande sorriso.

- Esse tempo que você sumiu, ela se sentiu muito sozinha, mas ela sabia que você ainda estava vivo, eu fiquei sabendo tudo isso hoje, sobre a tal da dimensão, os pesadelos, tudo. – Consigo controlar um pouco a emoção e me estabilizo.

- Bom, estava na hora de você saber, você faz parte da família real, somos os hunters originais, sua mãe foi filha de um, porém não foi escolhida, o seu tio Henri que passou no teste, já da nossa família, tinha que haver dois, que foram eu e o seu tio Luke, que é pai do Max, e por falar no Max, sua mãe te contou né? – É possível ver que ele estava realmente feliz, o brilho em seu olhar era perceptível.

Parecia que um turbilhão de memorias vinha a tona, eu estava começando a lembrar de coisas muito antigas, uma vez eu estava dormindo, tive um pesadelo e acordei suando, me lembro do monstro, ele sempre assombrava meus sonhos os transformando em horríveis pesadelos, eu o criei, ele era grande um pouco curvado para frente e tinha presas enormes, e sempre nesse pesadelo eu começava na cozinha e minha mãe me chamava na sala e quando eu chegava, ela se tornava ele, ele tinha a capacidade de ser qualquer pessoa, uma vez foi na escola, estava apenas eu e o Max na sala de aula e quando eu ia até o Max, ele se transformava naquele monstro, e toda vez eu acordava ensopado e chorando, aquilo era aterrorizante, eu não tinha reação, e toda vez minha mãe corria até meu quarto e me acalmava com uma música estranha, mas um dia o tal monstro se tornou real, eu acordei e mesmo assim ele ainda estava lá, só me lembro de umas coisas, uma luz forte e uma poeira que me fazia espirrar, provavelmente era meu pai, ele sempre esteve aqui, ele sempre esteve me acompanhando, e eu fico muito feliz em conseguir me recordar destas coisas.

- E porque aqui é igual a onde todos vivem? – agora vou começar a fazer as perguntas que sinto obrigação de serem respondidas;

- Bom, digamos que estamos invisíveis as pessoas normais, tem que ser igual, assim podemos caçar mais fácil, se esconder mais fácil, vir para cá mais fácil.- começamos a caminhar e saímos de dentro do banheiro.

- Pai, eu estou comprometido com isso pelo resto da minha vida? E quanto ao Max? Quando ele vai conseguir vir para cá?

- Quando ele completar os 16 anos dele. – Ele pare não querer responde a minha outra pergunta.

- Eu estou comprometido com isso pelo resto da minha vida? – Fico sério.

- Depende de você, se você realmente se importa em ajudar os outros, essa é a sua chance, Está no seu sangue. – Ele põe a mão no meu ombro, e meu coração acelera, eu realmente tinha que continuar fazendo aquilo, algo dentro de mim me mandava continuar.

- Eu vou continuar, pode ter certeza. – Falo com um tom de seriedade e fico satisfeito em seguida. – Eu quero te pedir uma coisa.

- Qualquer coisa. Ah, já ia me esquecendo, feliz aniversário ele pega uma caixa e me entrega, Você vai gostar, e muito! – Ele abre um sorriso e estende a mão.

- Obrigado pai. – Dou um abraço nele e pego a caixa, quando eu abri, tinha apenas o punhal da espada. – O que isso faz? – Dou uma risada e fico um pouco confuso.

- Pense na espada. – Quando penso na espada ela aparece, não é qualquer espada, ela é leve e branca. – Agora pense em qualquer monstro. – Quando penso, ela acende de cor azul, eu estava começando a dominar tudo isso.

- Pai, ela é incrível. – fico fazendo movimentos com ela.

- Acho melhor você voltar para sua mãe, ela esta esperando faz quase 1 hora. – Ele aponta para o banheiro.

- Tudo bem, eu quero que você venha nos ver, aliás vim ver a minha mãe, agora eu já posso me proteger sozinho. – Dou um forte abraço nele. – Tchau.

- Tchau. – Apago a luz do banheiro volto para a dimensão normal.

Tenho as mesmas sensações de quando eu fui para outra dimensão, escuto meu nome bem no fundo, abro a porta e corro para pegar minha habilitação, A mulher entrega, me faz assinar alguns papéis que acabo assinando rápido, finalmente a hora de dirigir meu carro estava chegando, Quando saio da agência, me sinto livre e corro até o carro e levanto a habilitação para minha mãe ver.

- Eu acho que vou ter trocar de lugar, e meus parabéns! – Ela troca o lugar e eu tomo conta do volante.

- Eu vi o pai. – Ela me olha chocada.

- E como foi? – Sinto um pouco de ansiedade na pergunta dela.

Conto tudo a ela enquanto dirijo o carro.

Demorei um pouco para lidar com o fato de que eu podia visitar outra dimensão e que meu pai estava vivo, mas estou lidando bem com a ideia e sabendo equilibrar-me bem entre os dois mundos. Quanto ao Max, conversamos e ele aceitou bem o fato de sermos primos, porque sempre parecemos uns.

Hoje, sinto orgulho, não mais confuso. Hoje sei que não sou só um adolescente com problemas hormonais. Hoje eu defendo as pessoas.

“Eu segui meu extinto.”


 
 
 

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