Despeça-se
- Leonardo de Cassio
- 8 de mai. de 2016
- 1 min de leitura

Tropeço, caminho, caio e chego
Chego ou não chego?
Quem sabe? Estou perdido.
Perdido entre esquinas
E uma multidão
Perdido entre o tempo
E o relógio cucu que cantarola
Perdido dentro de mim mesmo
Perdido na sombra que me engole
Sombra escura
Talvez mais escura que a noite, anoiteci
Senti ficando frio, mas não existe lua
Nada ilumina, a noite é eterna,
Tropeço, caminho, caio e chego.
Chego ao meu túmulo.
O que é a morte?
Sussurram que tem medo
Sussurram que acabou
Sussurram que é o fim
Sussurram que é um novo começo
Eu também sussurro.
Sussurro que é um presente dado pela vida.
Gosto de pensar que uma hora tudo vai acabar e pronto.
Porque triste a vida daquele imortal
Na solidão de sua natureza morta,
Que não se arrastará por entre túmulos
Não agradecerá aos deuses imundos
Então não sintam falta minha
Não cantem em minha despedida
Não se despeçam, eu ainda estou aqui
Vejo dois irmãos brigando,
Um homem assediando,
Uma mulher gritando, pedindo socorro a esmo
Uma travesti chorando,
Ah, se despeçam deles.
O irmão mais velho está morto.
A mulher assediada fecha as portas,
não sai de casa, está morta.
A mulher que grita não sente, está morta.
A travesti colocou sua roupa masculina,
mas está morta.
Despediu-se deles?
Eu morro, bebo remédios
Olha, estou bem de novo!
Canto, bebo, sorrio, choro.
Olha, a depressão bateu novamente.
Estou morrendo.
Estamos todos mortos, nus
Nus como mostra a pele,
Vindo como viemos, chegamos.
Chegamos ao meu túmulo.
Mas não se despeça de mim.
Eu ainda os observo enquanto dormem.
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