Acampamento no posto
- Natalia Albuquerque
- 19 de jun. de 2016
- 7 min de leitura

Já era noite, umas 22:00 horas já, não tinha nada de bom naquele apartamento branco e sem vida, eu já estava com sono em plena sexta-feira, não queria estar em casa depois de um termino de namoro, um namoro que durou 2 anos e acabou por traição da parte dele, queria estar curtindo minha noite, mas não, estava em casa e no tédio.
Depois de uma pesquisa na internet decidi ir acampar com as amigas, liguei para 3 amigas: Júlia, Amanda e Débora. Todas toparam ir acampar aquela noite. Resolvemos nos encontrar na casa da Júlia, já que só ela tinha carro.
Ao chegar lá colocamos nossas barracas e malas no carro e entramos nele para seguir viagem, estávamos animadas, fazia tempo que não saiamos juntas.
Já estávamos andando á um tempo.
— Meninas, quero fazer xixi. — Disse Debora com uma voz que deu dó.
— Porra Dé, são 2 da madrugada, você quer mesmo descer do carro? — Reclamou Júlia.
— Estou muito apertada amiga, e você sabe que não posso ficar muito tempo com xixi no corpo.
Decidimos parar e deixar Débora fazer o xixi dela, Júlia parou o carro e destravou as portas, a Débora desceu do carro já abrindo o zíper da calça, enquanto ela se enfiava no meio do mato nós conversamos um pouco e decidimos comprar alguma coisa para comer no próximo posto de gasolina.
A Débora apareceu e entrou no carro com uma cara de assustada, eu logo perguntei o que tinha acontecido e ela contou que tinha um homem alto olhando para ela no mato. Júlia com medo, travou a porta e ligou o carro. Não ligamos muito para o que ela tinha falado, até porque aquilo era uma mata e em matas existem animais, ela devia ter visto um animal e achado que era um homem.
Continuamos nosso caminho, mais 30 minutos de viagem e finalmente achamos um posto de gasolina, ele estava aparentemente aberto mas não havia ninguém lá, Júlia estacionou e de dentro do carro procurou alguém para abastecer o carro que já estava entrando na reserva.
— Vamos descer e ver se tem alguém na lojinha — Disse Amanda.
— E se não tiver ninguém? — Pergunto eu já sabendo que elas iam querer descer mesmo assim.
— Se não tiver ninguém a gente volta para o carro ué. — Resmungou Débora.
Descemos todas do carro, Júlia foi na frente e viu que a lojinha estava aberta, entramos e logo nos deparamos com uma velha de cabelos longos e brancos, ela nos olhava fixamente, como se pudesse ver nossa alma.
— Moça, a senhora não sabe se alguém pode encher o tanque do meu carro? — Perguntou Júlia com toda educação que eu não tinha.
A velha apontou com o dedo para uma porta onde estava pendurado uma placa escrito "não entre".
Júlia e Amanda foram até a porta e abriram ela, lá dentro dormia um senhor, Júlia o acordou e pediu pra ele encher o tanque.
O senhor se levantou e foi até a gaveta pegar alguma coisa.
— Tomem cuidado com essa estrada. — Disse a velha com um tom de voz que me arrepiou.
Me assustei e fiquei olhando para ela, quando do nada um homem entra e começa a quebrar a loja toda.
Olhei para o lado e a Débora já estava abaixada, olhei em direção a velha e ela não estava mais ali, me abaixei e fiquei ali com a Débora, ouvia gritos das meninas e barulho de vidro quebrando, aliás aquele homem estava quebrando tudo.
Gritei por socorro, quando o homem me puxou pelo cabelo me erguendo e me fazendo ficar de pé na frente dele, ele me olhava com tanta raiva, seus olhos eram escuros e eu conseguia ver amargura e ódio naqueles olhos. Implorei para que ele não fizesse nada com ninguém, pedi calma, mas ele só me olhava e apertava meus cabelos de forma com que eu fosse obrigada a gemer de dor.
De repente Amanda taca uma garrafa na cabeça dele e ele cai desmaiado, quando ele caiu nos meus pés eu fechei meus olhos e tentei me acalmar. A cabeça dele estava sangrando muito.
— Estão todos bem ? — perguntei com a respiração acelerada.
— Eu vou matar ele ! — gritou Amanda do fundo da loja. Ela estava segundo uma arma que não sei da onde ela tirou.
— Você ficou louca Amanda !? — Gritou Júlia.
— Ou eu mato ou ele vai acordar e nos matar.
— Vamos embora e quando estivermos bem longe ligamos para a polícia. — Sugeri tentando acalmar todas.
— Gente, cadê o senhor e a senhora que estavam aqui ? — Perguntou Débora.
Procuramos em cada parte da loja e do posto todo e não achamos nenhum dos dois. Eu, Débora e Júlia fomos procurar na garagem que estava aberta, entramos e acendemos a luz quando ouvimos um estalo alto vindo da loja. Saímos correndo já sabendo o que tinha acontecido, quando chegamos lá Amanda estava estirada no chão com o peito sangrando e o homem em pé com a arma na mão. Naquele momento ficamos sem reação, eu olhei para o rosto dele e percebi segurança em poder ir até a Amanda que ainda estava de olhos abertos, Débora chorando muito deitou do lado dela, Júlia estava parada na frente da porta. O homem saiu correndo e empurrou Júlia para dentro, ela sem reação caiu no chão e começou a chorar, com agilidade o homem tirou uma chave do bolso e nos trancou dentro da loja. Eu não estava me importando tanto em estar trancada dentro de uma loja e um maluco do lado de fora com uma arma.
Os olhos de Amanda foram fechando aos poucos, ela tentava falar alguma coisa mas não conseguia, não fizemos esforço nenhum em ligar para ambulância ou polícia.
— Eu amo vocês.
Essas foram as últimas palavras dela.
4:00 da madrugada e ainda estávamos em estado de choque, ninguém falava nada, só chorávamos. O corpo já estava gelado.
Olhei para a janela e o homem estava vindo em direção a loja, arreganhei os olhos e olhei para as meninas que também se assustaram, quando reagimos ele já estava na porta, a cara dele era de fúria, e a minha era de vingança, não ia deixar aquela morte assim, queria ver o sangue dele. Procurei alguma coisa que me ajudasse na minha defesa, peguei uma faca e a Débora uma garrafa, Júlia ainda estava em choque, ela foi para trás da gente.
— Se você relar mais um dedo em alguém aqui, eu te mato. — disse aquilo com ódio nos olhos.
Ele sentiu isso e tirou as mãos da maçaneta, saiu andando em direção a garagem, entrou lá dentro e depois de 10 minutos saiu arrastando um saco preto, parecia um corpo dentro. Ele o jogou na frente da loja, estávamos atentas aos movimentos dele, ele tirou do bolso uma faquinha e rasgou o saco mostrando o corpo da velha que estava no balcão quando entramos. Me surpreendi, mas demonstrei frieza para que ele soubesse que a morte é pouco pra mim. As meninas gritam e o xingaram.
Eu não sabia o que fazer, estava com muito medo, não conseguia achar uma maneira de mudar aquela situação.
Me agachei e abaixei a cabeça, quando veio na minha memória o que a velha tinha me dito "cuidado".
Débora parou de chorar, limpou o rosto com a manga da blusa e foi até o banheiro.
— Cadê ele ? — Perguntou ela.
Olhei para ver se via alguma coisa e não o encontrei.
— Não sei, deve ter ido matar mais alguém. O que você está fazendo aí ? — Respondi preocupada.
— Aqui tem uma janela, vamos sair por aqui.
Júlia só observava e aos poucos foi se acalmando e percebendo a situação em que estávamos. Ela sentou em uma cadeira e ficou olhando para o carro. Quando lembrou que a gente ainda tinha um carro.
— Vamos embora ? — perguntou ela ainda com voz de choro.
— Ju, eu sei que pra você não é fácil, mas a gente vai matar ele se for preciso. — respondi com calma e frieza.
— Temos um carro e celulares. — nos lembrou Julia.
Dei um beijo em sua testa em sinal de gratidão, fui até a bolsa dela que estava jogada no chão e procurei as chaves do carro e o celular dela, já que minhas coisas e as coisas da Débora estavam no carro, achei o celular e a chave, coloquei a chave em cima do balcão e liguei o celular que estava sem sinal. Me desanimei.
Débora ainda estava dentro do banheiro, do nada ela da um grito, eu corro para ver o que tinha acontecido, ela estava com a mão completa de sangue e sem o dedo indicador, ela gritava e dizia que ele tinha cortado, olhei para a janela e vi o rosto dele, ele tinha cortado o dedo dela, me desesperei e corri para pegar um pano, não achei nenhum então tirei minha blusa e enrolei na mão dela que não parava de jorrar sangue.
Júlia foi em direção a porta e gritou que ele estava vindo, chamei ela pra dento do banheiro e tranquei a porta. Naquele momento já sabia que iríamos morrer, os passos dele já se aproximavam, eu pedia muito a ajuda de alguém que não estava ali, tudo passou pela minha cabeça, eu tinha acabado de terminar um namoro, tinha perdido uma amiga e logo iria morrer com mais duas amigas.
Comecei a chorar, a Débora pedia socorro e a Júlia gritava muito.
Ele começou a bater na porta e a cada soco e chute que ele dava eu temia mais a morte, a porta já estava quebrando e os minutos estavam passando lentamente, tentei achar alguma coisa para bater nele quando achei um martelo jogado no chão, o peguei e mandei as meninas irem para trás, coloquei a mão na fechadura da porta, ele percebeu que eu ia abrir e então parou com os chutes, não se ouvia nada, todos se calaram, eu me preparei para abrir a porta, segurei o martelo na mão direta e abri a porta com a outra mão, assim que abri vi ele vindo em minha direção e ouvi um mar de tiros, meu alvo era ele, antes de chegar até ele sinto um ardor no peito, coloco a mão e percebo que tinha levado um tiro, os movimentos das minhas pernas estavam parando, estava sem força, cai no chão e sem poder me levantar vi ele matando as minhas amigas. Tentei me levantar mas não conseguia, ele estava vindo em minha direção, eu não tinha mais forças nem para erguer o martelo que ainda estava na minha mão, comecei a ver uma luz e o barulho foi ficando mais baixo.
Acordei suada, olhei para o lado e estava no carro. Era tudo um sonho.
— O que foi ?— perguntou Débora olhando para a minha cara.
— Eu tive um pesadelo. — respondi.
Olhei no relógio, 5:37 da madrugada, virei para olhar a janela e percebi que estávamos indo em direção a um posto de gasolina que aparentemente eu já conhecia.
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