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Doce mel

  • Gleyce Viana
  • 4 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

Eu adorava ouvir os relatos de seu dia, me encantava aquele jeito articulado e debochado de falar as palavras pareciam dançar em seus lábios. Ela dizia assim: Coisa ‘’looouca’’ o despertador essa manhã não queria calar a boca e quando enfim consegui silenciá-lo minha mãe me chamou nem queria vir à escola pensei em te esperar no portão da escola mas não te vi. - É cheguei atrasada por isso não me viu. - Percebi o seu atraso. O professor a principio me mudou de lugar para que eu não ficasse conversando o tempo todo com a Sabrina. Ele até chamou meus pais e o da Sabrina dizendo que eu seria a única prejudicada. E ainda disse a minha mãe. - Minha senhora não leve a mal, mas essa tal de Sabrina como posso te explicar, bem ela falta às aulas, conversa o tempo todo. Entretanto nas avaliações sabe se como ela se sai muito bem e já a sua filha não presta atenção como à senhora mesmo me pediu que se fosse necessário chamar a senhora aqui e foi por isso que a chamei. Minha mãe nunca havia sido chamada na escola e quando o professor disse que precisava que minha mãe fosse lá, ela ficou muito triste. O professor fez um relato do histórico da Sabrina dizendo que ela já havia sido flagrada fumando maconha no banheiro da escola e já havia sido pega pichando o muro, vivia entrando em brigas e que ainda assim suas notas eram boas e os pais faziam o possível para controlá-la. Enfim disse a minha mãe creio que quem esta perdendo com essa amizade e somente a sua filha. Minha mãe não me bateu, não brigou comigo me mudou de turma e ao chegar a nossa casa disse: - Amanhã você começa estudar à tarde na quinta série A e não quero mais falar sobre isso. Como eu não podia sair de casa a noite e durante a tarde estaria na aula minha mãe pensou que tudo havia sido resolvido. Logo na primeira tarde Sabrina entrou no intervalo com um caderno embaixo dos braços para uma ‘’pesquisa’’. E na saída da aula me esperava no portão embora a gente não estudasse mais juntas eu passava grande parte do dia com ela. Minha mãe ficou feliz com minhas notas todas azuis. Eu até tirei um oito em matemática um fato único até então. Quando minha mãe conversava com minha tia durante um almoço de domingo minha tia disse que minha prima estava com notas muito baixas. Minha tia ia dar a maior bronca na minha prima. Quando minha tia disse: - Por que você não faz como sua prima Minha prima não pensou duas vezes para responder: - Não tenho aula particular igual ela. Minha mãe com um sorriso cheio de orgulho ainda disse: - Sua prima também não tem. Não sei acho que é por isso que até hoje não gosto dela. Minha prima respondeu a minha mãe tem sim, ele tem aulas com a Elisa depois da aula. Como eu havia saído com meu pai para comprar carvão não presenciei a conversa. Mas minha mãe me disse assim que meus tios se foram no final da tarde que bastava minhas notas caírem para eu ficar proibido de ver a Elisa. Como minhas notas continuaram a subir minha mãe permitiu que a Sabrina frequentasse nossa casa e no fim acabou gostando dela a sua maneira cheia desconfiança e carinho. Minhas notas nunca poderiam cair com o método de ensino de Elisa a cada acerto ela me dava um beijo. Na casa de Elisa eu conheci tudo que a vida tem de melhor. Os livros de seu pai que eu lia e que ele sempre me emprestava isso quando não me dava o livro de presente. Além do gosto pela boa musica já que a mãe de Sabrina tocava violão e cantava também aprendi apreciar a boa comida preparada por dona Neide empregada da família que me tratava como uma filha com beijos e abraços. Mas o melhor disso foram às coisas que aprendi com Sabrina. Quando seus pais saiam o que era quase sempre. Ela me arrastava para o seu quarto perfumado pelo incenso acendia um baseado que ela roubava de sua mãe e ficávamos horas no quarto descobrindo o sexo e o significado da palavra: cumplicidade. Sobre amor acho que nossa relação tinha algo maior que o amor que se vê nos livros e na televisão. Era como se fossemos um só era incrível como era fácil ser feliz com ela ao meu lado. Quando ela se mudou para o Rio de janeiro devido à morte de seu avô eu quase morri e ela também. O tempo não para e todos mudamos. Minhas notas caíram e enquanto eu crescia com a sensação de ter perdido algo único me consolava saber que em algum lugar existe uma garota feliz que dança mesmo sem música, que canta andando pelas ruas com as palavras dançando em sua boca. Sempre que penso em Sabrina um sorriso me vem um sorriso que me diz: - Não se preocupe ela te deu a felicidade agora só preciso lembrar onde guardei. Existem milhões de coisas belas dentro de cada um de nós e o que a de mais belo em mim é a lembrança de Sabrina.


 
 
 

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